À Lua (ou Saudade-Abstinência)

”e me dá uma saudade irracional de você. Uma vontade de chegar perto, de só chegar perto, te olhar sem dizer nada, talvez recitar livros, quem sabe só olhar estrelas… dizer que te considero – pode ser por mais um mês, por mais um ano, ou quem sabe por uma vida – e que hoje, só por hoje ou a partir de hoje (de ontem, de sempre e de nunca), é sincero.”
Caio F.


De uma forma irreversível, a realidade acabou derrubando o desejo, o sonho e a ficção.
Não quero possuir a realidade, pois nele, nosso tempo nunca existiu.
Existiu o flerte, o querer e a dúvida.
Mas um tempo, um toque na pele nua e quente, um beijo, isso nunca existiu.
Mas sinto falta de você.
Sinto falta de ar, e de você.
Sinto falta do tempo leve e frágil da sua presença.
Sinto essa saudade que vem de um lugar ainda desconhecido de dentro de mim e que sai pelos meus poros, minha pele,suor,saliva,voz,ar...
Sinto a falta de sentir tristeza de tê-la apenas como amiga.

Mas a distância nos atingiu de um jeito que não sobrou muito de você. Não a olhos nus. Mas sobrou de ti suas histórias e tu em mim.
Sobrou o intocável de você, e isso é o que mais me machuca.
O seu intocável. Seu “eu” que tem dentro de você.
Aquela vez que chorou na minha frente, confesso que contive as lágrimas, aguentei firme, mas senti meus olhos queimarem.
Senti todo o peso do mundo de não ter te conhecido antes, para te proteger do que te levava a chorar.
E agora a frieza da distância é o que restou de meus sonho e desejo.
Você ecoa em todas as partes do meu corpo.
Minhas células e átomos carregam teu nome e eu não sei aonde ir ou o que fazer com isso.
Não sei o que fazer na segunda, pois quando nos encontrarmos, esses átomos te procuraram e eu sabendo que não posso supri-los de sua necessidade, serei uma morta-viva.
Sem reação ou fala.
Sem alma nos olhos.
Os lábios rachados e as mãos secas.
Serei pálida. Branca. Sem expressão.
Não haverá nada além de silêncio.
Não haverá Clarice, nem Caio Fernando.
Não haverá jazz, nem bossa nova.
Nada.
E se você duvidada minha tentativa, te garanto desde já, que escrever-te isso sendo que talvez você nunca venha a ler, é a minha abstinência de você.
Tentarei “limpar-te” de mim, porque será melhor, para você e para mim.
A distância. O vão. O eco. O hiato.
Não sei o que me tira mais o equilíbrio, se é ter-te perto sem tê-la, ou não tê-la de forma alguma.
Só sei que ambos incomodam.
E esse incômodo gera uma necessidade de querê-la cada vez mais.
Você diz que sou carente e apaixonada, mas não sou.
Sou apenas uma romântica irremediável.
E amo sem saber como amar de verdade.
E então amo da minha forma de amar.
De corpo, alma, música, livros...
Te amo como se não fosse possível amar mais ninguém assim em minha vida.
Te amo a ponto de desejar o meu eterno sono, ao invés de viver sem tê-la.
Eu te amo.
Acho que não te disse isso.
E se te disse, não foi dessa forma.
Foi da forma atuada de que éramos apenas amigas.
Foi da forma fingida, então não vale.
Não chegarei a lugar nenhum com isso.
Nem com esse texto, nem com a saudade de ti, a abstinência de você, nem a vontade de ti.
Talvez consiga um livro.
Mas só.
Creio que o verdadeiro objetivo do qual me levou a escrever isso, eu nunca alcançarei.
E termino esse texto saudade-abstinência com a dúvida dos amantes mal-amados:
“o que é que posso contra o encanto desse amor que nego tanto, evito tanto e que, no entanto, volta sempre a enfeitiçar?”

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